Coisa Mais Linda é uma série brasileira lançada pela Netflix em 2019. Criada por Heather Roth e Giuliano Cedroni, e dirigida por nomes como Caíto Ortiz e Julia Rezende, a produção mergulha na vida de quatro mulheres que desafiam padrões sociais e buscam sua própria voz na conservadora sociedade brasileira dos anos 1950. Com cenários deslumbrantes do Rio de Janeiro e uma trilha sonora marcada pelo nascimento da bossa nova, a série mistura feminismo, arte e emoção com elegância e profundidade.
Enredo
A protagonista é Malu (Maria Luísa), interpretada por Maria Casadevall — uma jovem paulistana rica que se muda para o Rio de Janeiro para abrir um restaurante com o marido. Porém, ao chegar à cidade, ela descobre que foi abandonada e roubada por ele. Em vez de retornar derrotada, Malu decide ficar, abrir um clube de música e começar uma nova vida, enfrentando o machismo e o conservadorismo de sua época.
Ao longo da história, Malu encontra e se alia a outras três mulheres poderosas e inspiradoras:
- Adélia (Pathy Dejesus), uma mulher negra da favela, forte e determinada, que luta para criar a filha e sobreviver em uma sociedade racista e desigual.
- Lígia (Fernanda Vasconcellos), amiga de Malu, uma cantora frustrada e esposa de um político autoritário, que sonha em se libertar das amarras do casamento.
- Thereza (Mel Lisboa), jornalista moderna e livre, casada com um homem progressista, mas que vive seus próprios dilemas sobre carreira, maternidade e sexualidade.
Juntas, essas mulheres constroem uma narrativa de resistência, empoderamento e amizade, enquanto o cenário político e cultural do Brasil passa por transformações.
Feminismo e empoderamento
Coisa Mais Linda é antes de tudo uma série sobre o despertar feminino. Ambientada numa década onde a mulher era confinada ao papel de esposa e mãe, a trama mostra mulheres que ousam sonhar com independência financeira, liberdade sexual e realização profissional.
Cada personagem representa um aspecto das lutas femininas:
- Malu enfrenta o preconceito por ser mulher empreendedora;
- Adélia encara o racismo e a desigualdade social;
- Lígia lida com a violência doméstica e a repressão artística;
- Thereza desafia tabus sobre sexualidade, trabalho e maternidade.
Essas histórias cruzam temas contemporâneos e mostram que, embora o tempo tenha passado, muitos dos desafios ainda persistem. A série convida à reflexão sobre o lugar da mulher na sociedade, sem ser panfletária.
Trilha sonora e atmosfera
A trilha sonora é um dos grandes destaques da produção. Embalada pela ascensão da bossa nova, gênero musical que nasceu no fim da década de 1950 e que traduz o espírito moderno e sofisticado do Brasil da época, a série exibe interpretações de músicas clássicas com nova roupagem, além de composições originais.
As cenas nos clubes de música, nas praias e nos bares boêmios do Rio ajudam a criar uma atmosfera encantadora, que mistura nostalgia e modernidade. A fotografia é cuidadosa, com cores suaves e figurinos deslumbrantes, recriando com fidelidade o glamour do período.
Conflitos sociais e raciais
Apesar do tom delicado e romântico, a série não evita abordar temas duros. A realidade de Adélia, por exemplo, mostra o contraste entre o Rio elegante da zona sul e a dura vida nas favelas. Ela enfrenta racismo, exclusão social e violência, mas é apresentada como uma personagem complexa, corajosa e cheia de dignidade.
A série também toca em temas como a repressão à liberdade de expressão, os primeiros sinais da ditadura militar, o elitismo, e a marginalização das mulheres negras. Esses elementos dão profundidade à narrativa e fazem de Coisa Mais Linda uma obra não apenas bonita, mas também relevante.
Elenco e atuações
O elenco é um dos pontos altos da série. Maria Casadevall entrega uma Malu sensível, determinada e carismática, conduzindo a trama com segurança. Pathy Dejesus brilha como Adélia, com uma atuação intensa e comovente, trazendo à tona toda a força e humanidade da personagem.
Mel Lisboa e Fernanda Vasconcellos também têm atuações marcantes, com nuances e autenticidade. O elenco masculino, apesar de ter papel coadjuvante, também é bem dirigido, com destaque para Leandro Lima e Ícaro Silva.
Recepção e legado
Coisa Mais Linda foi muito bem recebida pelo público e pela crítica, tanto no Brasil quanto internacionalmente. Foi elogiada pela estética, roteiro e principalmente pela representação feminina forte e diversa. A série teve duas temporadas e, apesar de pedidos por uma terceira, foi encerrada pela Netflix.
Mesmo assim, seu legado permanece como uma das produções brasileiras mais relevantes da plataforma, provando que é possível fazer ficção histórica com qualidade cinematográfica e conteúdo transformador.
Por que assistir?
- Pela representação feminina autêntica e poderosa;
- Pela ambientação impecável, com figurino, trilha e fotografia de alto nível;
- Pela reflexão social, que toca temas como machismo, racismo, desigualdade e liberdade individual;
- Pela beleza visual e sensibilidade narrativa, que transforma dor e resistência em arte.